terça-feira, 21 de setembro de 2010

A "dança do ventre" e o parto - by Morocco

Escrito por Morocco e publicado pela primeira vez em 1964 em "Sexology" e em numerosas outras revistas e documentos ao longo dos anos.


Danse du ventre, ou, para usar o nome norte-americano deliberadamente cunhado com equívoco, Belly Dance não é o que a sociedade ocidental pensa que ela seja, isto é, uma dança de sexo e sedução. Esta é uma crença errônea e ignorante, reforçada e perpetrada por escritores de teatro e cinema muito preguiçosos para fazer pesquisa. Também não é uma dança de "barriga", pois trata-se muito mais do que apenas os músculos do estômago.

Dança Oriental, como os árabes a chamam, é uma das mais antigas formas de dança, origina -se com ritos religiosos pré-bíblicos em reverência a maternidade e dois de seus movimentos (os dois únicos realmente feitos com os músculos abdominais) tem como seu ponto de vista prático a preparação das mulheres para as tensões do parto. Assim, é também, de certa forma, a forma mais antiga de instrução de parto natural.

De acordo com a Farab Firdoz, uma dançarina de Bahrein, Arábia Saudita, esta dança ainda era utilizada e realizada em partes menos ocidentais de seu país nos anos 50, em torno de uma mulher em trabalho de parto, por um círculo de amigas e mulheres de sua tribo. Nesta forma ritualística de dança, os homens são proibidos de assistir. O objetivo aqui é hipnotizar a mulher em trabalho de parto fazendo com que ela imite os movimentos com seu próprio corpo. Isto facilita grandemente o nascimento do bebê e reduz a dor das contrações do útero. E ajuda a mãe a se movimentar a favor da movimentação uterina ao invés de ir contra aos movimentos de contrações.

Infelizmente, a civilização ocidental trouxe um erotismo doentio ao Oriente Médio juntamente com seus avanços tecnológicos. A dançarina do Shamanka, Armen Ohanian* diz:

"Uma noite no Cairo, com os olhos absolutamente incrédulos eu vi, uma das nossas mais sagradas danças degradadas de forma brutal, horrível e degradante. É nosso poema, do mistério e da dor da maternidade, que todos os verdadeiros asiáticos assistem com reverência e humildade, nos longíquos cantos da Ásia, onde o sopro destrutivo do Ocidente não tem ainda penetrado. Nesta Ásia antiga, que manteve a dança em sua pureza primitiva, ela representa maternidade, a concepção misteriosa da vida, o sofrimento e a alegria com que uma nova alma é trazida para o mundo.


" Poderia algum homem nascido de uma mulher contemplar este objeto tão sagrado, expresso em uma arte tão pura e tão ritualística como nossa dança oriental de outra maneira senão em uma profunda reverência? Essa é a nossa veneração asiática da maternidade, onde países e tribos tem seu juramento mais solene sobre o ventre, porque é a partir desta taça sagrada que a humanidade progénie.


"Mas o espírito do Ocidente tocou esta dança sagrada e a tornou a infame danse du ventre, o 'hoochie koochie'. Para mim, uma revelação nauseante da profunda e insuspeitada brutalidade humana, para os outros era - divertido. Eu ouvi os europeus rindo. E até vi sorrisos lascívos lábios asiáticos, eu fugi ".

Gerações de mães Beduínas e bérberes podem ter de dar á luz aos seus bebês não só sem o benefício de hospitais e os modernos métodos anti-sépticos, mas também, sem o conforto e o auxílio muscular do que é definitivamente um ritual ancestral. Isto é porque alguns árabes agora estão começando a ver o sexo como simplesmente um exercício de ginástica para uma função natural. Como resultado, o ritual está morrendo lentamente.

Outros povos, entre eles os havaianos e Maoris da Nova Zelândia, tiveram suas próprias danças de preparação para o nascimento de bebês, envolvendo os músculos pélvicos e abdominais. Os havaianos costumavam ter uma hula chamada "Ohelo", que foi feita em uma posição reclinável, por ambos os sexos, todas as manhãs. Em1936, Maoris ainda praticavam este exercício.

Uma pequena seita muçulmana Allaoui acreditam que o Messias vai nascer de um homem, baseados em que a mulher é indigna de uma honra tão elevada. Sob essa suposição, os homens praticam Dança Oriental em preparação para a honra de dar à luz a seu salvador.

A idéia de que as crianças devem nascer na dor é uma idéia religiosa, baseada no conceito cristão de pecado original e da penitência exigida pelo pecado. A Bíblia diz, "na dor dará a luz a seus filhos". Nada é dito sobre a dor excruciante ou indevida, e ainda o pensamento de angustiantes dores do parto é martelado em nossascabeças desde a mais tenra idade. Assim, o parto é abordado com orgãos e músculos tensos de medo e antecipação. Em vez de relaxar e ajudar a natureza , colocamos obstáculos em seu caminho.

A idéia mais recente em obstetrícia hoje é preparar as mulheres grávidas para o momento do parto através de hipnotismo ou aulas de treinamento especial. Que podem agora ser ultra-modernos e ainda dar a luz como "parto natural". Os médicos descobriram recentemente que bebês nascidos dessa maneira veem ao mundo mais alertas e sem o torpor induzido pela anestesia..

O que o hipnotismo realiza, embora temporariamente, é a supressão progressiva da sugestão do conceito mental de parto doloroso. A mulher relaxada agora pode se concentrar em apenas a ajudar a natureza, movendo-se com as contrações do parto.

Isto é idêntico ao realizado pelo círculo de dança de mulheres de tribos árabes que ao hipnotizar a mulher em trabalho de parto fazendo-a imitar seus movimentos pélvicos sem interrupção. Sua tarefa é muito mais fácil, já que não existe nenhum medo infundado e exagerado sobre as dores do parto nas sociedades primitivas.


Quem pensaria em mandar um homem que tem um trabalho sedentario para correr nas olimpíadas? Por que então a sociedade ocidental espera de uma mulher, que nunca tenha usado seus músculos pélvicos a não ser apenas para segurar sua cinta-liga, dar a luz com facilidade, uma façanha que sobrecarrega os músculos mais do que qualquer competição atlética ?
Parto deve ser preparado. Músculos inativos devem ser trabalhados pouco a pouco, passo a passo. Só é preciso um pouco de trabalho, que certamente não prejudica a mãe ou o feto. Fortalecer os músculos também ajuda o desempenho da criança na gravidez e reduz estrias no abdômen.

Treinamentos, tais como cursos de educação para parto em um dos principais hospitais em Nova York, tentam realizar em poucos meses ou semanas o que deveria ter sido iniciado na infância: saber moldar os músculos pélvicos usados na gravidez e no parto e recuperar a forma e muscular e tônus após o nascimento.

A primeira lição na ficha de exercícios desse hospital diz: "exercícios de concentração - objetivo: aprender o controle muscular dos grupos musculares. É dada especial atenção a forte contração e relaxamento absoluto do resto do corpo."

A técnica de Dança Oriental é de contração e relaxamento, enquanto todos os outros músculos que não estão envolvidos no movimento estão relaxados.

Aula 2 vai em: "fique com os joelhos relaxados, pés paralelos e com o peso do corpo distribuídos ao longo dos arcos de seus pés. Balance a pélvis para cima, aperte lentamente suas nádegas e músculos abdominais inferiores. Deite de costas, com as pernas dobradas, empurre de volta firmemente ao chão, contraia os músculos abdominais ao mesmo tempo - relaxe."

Esta é uma posição adotada em quase todas as Danças Orientais em um momento ou outro, onde a cabeça alcança o chão em um cambrée e relaxa o corpo até que a coluna vertebral repousa no chão.Os joelhos são dobrados e os pés para fora e perto das coxas. Respiração rítmica lenta é seguida pela respiração rápida superficial, aceleração do que aumenta com contrações, produzindo uma variedade de movimentos abdominais.

Uma das mulheres, que assistiram aulas deste tipo, era a esposa de um proeminente advogado de origem Turca e mãe de gêmeos. Ela me disse que um dos movimentos de seu obstetra enfatizava foi um movimento de ondulação do abdomen, o antigo "belly roll" árabe - o que agora chamamos de "camelo".

Foi explicado que a parte superior da onda, como o médico chamava o movimento, era para ser feito entre as contrações do útero e a parte inferior da onda, ou sendo, para baixo, era para ser feita com o ventre contraído. Isso iria ajudar a mãe consideravelmente expulsando o bebê com desgaste mínimo em todos os órgãos internos e músculos envolvidos.O combate as contrações através do medo e a preocupação com os pensamento de dor apenas tensiona os músculos e rasga-os em vez de permitir a eles se esticar suavemente durante as contrações uterinas e relaxamentos.

O próprio movimento de ondulação não é tão fácil para aprender, quando feito de forma errada só serve para distender os músculos do estômago. A coluna vertebral, pélvis, diafragma e abdômen inferior estão envolvidos. Isso é extremamente difícil de descrever ; deve ser demonstrado, explicar passo a passo, sentir gradualmente músculo pelo músculo.

Cada músculo deve ser pouco a pouco trabalhado e desenvolvido por sua vez, antes do conjunto todo poder ser usado, para que cada fração de segundo pode ser perfeitamente controlada. Ao invés de nitidez e aspereza, deve haver um movimento suave, circular, ondulante.

Felizmente, o comentário da mulher turca que mencionei deu a ela mais do que apenas o conhecimento de Dança Oriental à uma leiga e, por conseguinte, um melhor conhecimento e controle sobre seus músculos pélvicos. Posteriormente, ela aprendeu todos os exercícios com maior rapidez e facilidade do que a mulher média produzida por uma sociedade que está apenas descobrindo seus quadris através de algumas das danças latinas e sociais mais recentes.

Estes são os músculos que tem sido usados por quase todos os árabe e turcos - a partir da infância , na execução de algumas das suas danças folclóricas : vulgarmente e erradamente referidos na sociedade ocidental como a danse du ventre ou, pior ainda, da barriga ( belly dance).

* Armen Ohanian: dançarina persa, que escreveu o artigo em meados do século XIX quando se deparou no Egito com a dessacralização da Dança ritual.


Traduzido por Christine Avedikian com autorização de Morocco.


Christine Avedikian

1 comentários:

Val Ciranddete disse...

Lindo...
Parabéns lindas tecelãs, maravilhoso trabalho...
Amo vc´s

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