quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Nascer Sorrindo! É possível!
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Vídeo: III Tenda Rosa Rubra de Mulheres (20/11/2010)
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ventre de Vênus - III Tenda Rosa Rubra de Mulheres
terça-feira, 9 de novembro de 2010
WORKSHOP TENDA VERMELHA: A SACRALIDADE DO FEMININO DIVINO!
13/11 - Sábado - 12h às 15h30 - Workshop Tenda Vermelha: A Sacralidade do Feminino Divino!
Com Christine Avedikian!
sabedoria profunda de nossos ovários,
da ancestralidade feminina,
da capacidade criativa de fluir sempre,
do poder de ser mulher,
do amor"
A Tenda Vermelha era um lugar para onde as mulheres do Oriente Médio se reuniam para compartilhar os Mistérios Femininos, a sua ancestralidade e poder, para reverenciar e honrar seus ciclos e a expressão da sua força criativa, para estarem unas umas com as outras neste período em que ficamos mais sensíveis e mais receptivas. Era ali onde as anciãs passavam para as mais novas a sabedoria milenar do poder feminino, de sua capacidade geradora, nutridora, era ali que falavam de amor, que faziam bálsamos para curar os males que afligia a comunidade, era ali dentro daquele espaço sagrado que alcançavam a visão, que realizavam seus rituais de conexão com a Terra, com seus Ancestrais, com a Natureza e poder do Sangue Menstrual.
Nesta vivência nos iremos nos reconectar com a energia de cura, sabedoria e de nutrição da Sagrada Tenda, um espaço de irmandade, protegido e sagrado onde se vive a sabedoria feminina tecida ao longo dos milênios, um lugar que poderemos nos reconectar com o poder de nosso ventre sagrado, nosso coração e alma, através das batidas do coração da Mãe Terra
Esta jornada é um convite ao resgate e reconhecimento do poder feminino, dos ciclos, da sabedoria e da ancestralidade. Através da celebração e consagração de nosso ventre, de nossa força criativa, do poder do sangue menstrual, e de nossa feminilidade sagrada. Um retorno a nós mesmas, a nossa sabedoria inata, a conexão com a Grande Deusa que nos habita.
Temas abordados:
- A Tenda Vermelha: a Tenda Lua: O Sagrado Feminino Ancestral
- A Lua e o poder feminino
- A Irmandade e a Sabedoria Feminina
- Tecendo com Teia de nossas ancestrais: o poder da Menarca, Menacme e Menopausa
- A Deusa, seu culto e os desafios da Espiritualidade Feminina
- Instrumentos de Poder Femininos : Livro Vermelho, Jarro Menstrual, Amuletos, Meditações, Rituais etc..
- Lendas e Contos que curam
- O poder do Sangue Menstrual e como usar este Poder para conseguir amor, prosperidade, saúde
- O Poder das Ancas: Dançando o Ventre Sagrado
- A Consagração do Ventre e de instrumentos de poder
Rua Leopoldo Amaral, 43 - Vila Mariana
Altura do 1.750 da Av. Lins de Vasconcelos
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A contribuição do ecofeminismo para a ética animal
Sim, nós mulheres somos responsáveis por toda forma de vida que habita nossa mãe terra.
Vejam a reportagem…
Aproveitando a vinda ao Brasil para participar do ENDA, Marti Kheel estendeu sua viagem até o sul e esteve alguns dias em Florianópolis (Santa Catarina), quando conversou com pesquisadoras(es), proferiu uma palestra e passeou pela ilha. Marti é autora de diversos artigos sobre ecofeminismo, defesa dos animais e ética ambiental, incluindo o livro Nature Ethics: An Ecofeminist Perspective.
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Em sua palestra na Universidade Federal de Santa Catarina, organizada pelo grupo de estudos sobre Feminismo Eco-Animalista, Marti falou sobre a contribuição do ecofeminismo para a ética animal. Explicou que o ecofeminismo é tanto um campo teórico quanto um movimento social, que surgiu diante da degradação do mundo natural, na década de 1970. Ressaltando que não há uma única filosofia do ecofeminismo, explicou que “no nível mais amplo, o ecofeminismo refere-se à ideia de que a desvalorização das mulheres e da natureza tem andado de mãos dadas na sociedade ocidental machista”, e que ambas se reforçam mutuamente. Marti propõe que o ecofeminismo pode contribuir para a ética animal com uma ética do cuidado, mas ressalta que essa acepção de cuidado é muito diferente de simplesmente “tomar conta de algo”. Marti frisou a importância de remover os bloqueios conceituais que impedem o desenvolvimento da empatia em relação à natureza, bem como a adoção de uma prática vegana, que exclui todos os produtos de origem animal da dieta. Dessa forma, a educação de crianças é colocada como ponto fundamental para a promoção da ética animal e ambiental.
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O encontro com o grupo de estudos sobre Feminismo Eco-Animalista, no dia 19 pela manhã, foi uma excelente oportunidade para as(os) pesquisadoras(es) que vêm ao longo de dois anos estudando as propostas teóricas de diversas autoras ecofeministas. Marti tirou dúvidas, esclareceu passagens de seus textos e compartilhou experiências que teve com colegas da área nos Estados Unidos.
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A vinda de Marti, e os referidos eventos, contaram com o apoio da ANDA, na pessoa de Silvana Andrade, que viabilizou inicialmente a vinda da professora; do Babele Bistrô e Empório Orgânico, que preparou as refeições crudívoras; da Universidade Federal de Santa Catarina, especialmente os Programas de Pós-graduação em Filosofia e Interdisciplinar em Ciências Humanas, que financiaram transporte e hospedagem; e dos membros do projeto Feminismo Eco-Animalista, especialmente a professora coordenadora Sônia T. Felipe, as pesquisadoras Daniela Rosendo, Neide Schulte, Samantha Buglione e Tânia A. Khünen, e o pesquisador Rafael Mendonça. Em agradecimento pela vinda da palestrante, o grupo a presenteou com uma bolsa e uma peça de roupa produzida pela professora e estilista Neide Schulte, no âmbito do projeto EcoModa (www.ceart.udesc.br/ecomoda).
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(Fonte: site da Anda – Agência de Notícias de Direitos Animais)
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Dança do Ventre... no trabalho de parto!!
No vídeo, a mulher está com aproximadamente 8 cm de dilatação, durante a filmagem ela teve 2 contrações... Lembrando que os bebês nascem com 10cm de dilatação e esse período é o mais doloroso do trabalho de parto!
Ela faz uma dança linda!!!!
(interessante também é um simpático gatinho que aparece na porta da sala. Provavelmente para assistí-la e checar se está tudo bem…)
Por Michelle Santiago.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
"A terra vai dar à luz um homem..."
Durante todos estes dias, nós presenciamos a angústia e ansiedade dos 33 mineiros presos em uma mina no Chile em decorrência de um desabamento.
Particularmente eu me emocionei muito ao saber que todos eles chegariam com vida, sãos e salvos de volta.
Mais uma vez a Mãe Terra nos mostra seu poder de criação, ou melhor "recriação". De todas as formas ela nos dá a vida: seja permitindo que estes homens retornassem sãos e salvos ou nos provendo alimento.
Será que já não é chegada a hora de prestarmos mais atenção à nossa terra? Ela não é estática, está viva, pulsando sob nossos pés......
Um beijo no coração,
Valéria Zukauskas.
(endereço da imagem deste post: aqui)
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Deusa, Uma Nova Forma de Expressão
Sou mulher e não conheço a minha história.
Não tenho identidade.
Sou pedaço de Adão (Gn 2,22).
Sou auxiliar, complemento, companheira (Gn 2,18).
Sou controlada, subjugada, submissa.
Sou dote. Esposa meiga, dócil, obediente...
Sou santa, sedutora, prostituta.
Sou mãe e amante.
Sou admirada e sou temida.
Sou víbora mansa ou feroz.
Sou doce ou atroz!
... Sou mulher.
Relegada a “ser menor”, a “ser menos”...
Minha altivez, dignidade, igualdade, força, ousadia
e soberania foi-me roubada, usurpada?!...
Preciso entender como e por quê.
E resgatar minha história,
resgatar minha identidade para
refazer-me
reconstruir-me
reconhecer-me
reencontrar-me
revalorizar-me
e renascer mulher!
A história que conheço é aquela que durante séculos silenciou e continua silenciando e ferindo o corpo das mulheres. Mulheres anônimas, conhecidas apenas como: “esposa de...:, “mãe de...” , “irmã de...” , “filha de...” , ou então, “aquela mulher...” , “aquela professora...” , a “tia...”
Há quem ouse dizer que essa submissão e dependência da mulher é “coisa do passado”. Sei que muitas mulheres já conquistaram seu espaço e, autônomas, assumem seu papel na sociedade e são independentes. Impossível é estender essa autonomia e independência à todas as mulheres!
São tantas as mulheres desconhecidas, esquecidas, ignoradas na linguagem do patriarcado androcêntrico! São tantas as mulheres tratadas como pessoas sobre as quais se decide sem consultar! Suas oportunidades na vida se limitam a ser mãe, esposa, cozinheira, faxineira, lavadeira...
Mulheres como a Lita, a Neca, a Terezinha..., que trabalham de manhã à noite na roça e ainda cuidam da casa, do marido e dos filhos e quando precisam do dinheiro têm que pedir, justificar...
Mulheres como a Cristina que mesmo sentindo-se doente “tinha que cuidar do marido”. Quando foi ao médico era tarde. O câncer já lhe havia tomado o seio e criado raízes...
Mulheres como a “tia Nega” que, de tanto apanhar do marido e dos filhos começou a beber e chora e diz que está cansada desta vida...
Mulheres como a minha mãe, Verônica, que criou dez filhos e não teve tempo de aprender a bordar, pintar, dançar, fazer tricô ou crochê. Hoje, aos 79 anos enfrenta sério problema de depressão, pois não tem mais filhos para criar, educar... E não sabe fazer outra coisa. A vida inteira foi mãe e esposa!
Mulheres como a Jacira, que conseguiu escapar das “mãos de macho” do marido que quase a estrangulou e hoje, sozinha, cria três filhos adolescentes!
Mulheres como a Guiomar que cuidou do marido alcoólatra, até este morrer de sérias complicações por causa do álcool...
Esta é a realidade das mulheres da minha comunidade. Uma comunidade de mulheres agricultoras. Não conheceram outras alternativas. Pouquíssimas tiveram a oportunidade de estudar... “As filhas mulheres não precisam estudar, pois sua obrigação é cuidar, zelar pelo bem estar da casa, do marido e dos filhos”, diziam os mais velhos.
São tantas as mulheres que não conhecem suas possibilidades! Nem seus valores! Adotam inconscientemente atitudes de menor. Têm temores infantis de serem abandonadas, espancadas. Têm medo de ficar desprotegida, sem apoio. Sentem-se mais fracas e aceitam como fatalismo os castigos físicos impostos pelo marido. Sua realização pessoal limita-se em ter filhos.
A maternidade muitas vezes é fruto da violência, da promiscuidade ou do álcool. Não obstante, até mesmo em condições desumanas, a maternidade continua sendo fundamental para a autovalorização da mulher! “... ela será salva pela sua maternidade...” (1Tm 2,15).
Cabe à mulher, portanto, a tarefa de zelar, cuidar, criar, educar. Responsabilizar-se pelo total e completo bem estar do marido e dos filhos. Ela “deve” compreender que esta relação de família está acima de suas vontades, sonhos, desejos, querer, ambições profissionais...
A mulher é vista e lembrada à luz do patriarcado: “... aprendam a amar os seus maridos e filhos, a ser ajuizadas, fiéis e submissas a seu esposo, boas donas de casa, amáveis...” (Tt 2, 3-5).
Também Maria, a Mãe de Deus, é interpretada segundo os critérios masculinos do patriarcado androcêntrico. Sua figura é a figura da mulher silenciosa, absorta em Deus que se pôs a escutar, obedecer, ser prestativa, colaboradora, casta, pura, inocente...
Maria é valorizada porque soube ser serva, escrava. Soube dizer Sim (Lc 1,39). Teve preocupação de Mãe ao perceber a ausência do Filho quando voltavam de uma romaria ao Templo (Lc 2,48).
O homem privilegiou essas “virtudes” em Maria e por extensão a todas as mulheres.
Maria é carregada em andores, pálida e passiva. Sempre calada. Muda. Como a mãe que suporta tudo e todo tipo de opressão e exploração.
Como “modelo de mulher”, Maria é obediente, prestativa, dócil, carinhosa, meiga, feminina...
Não poderia ser diferente numa sociedade que tinha (e tem!) o homem como centro e a mulher como sua propriedade.
Hoje, ainda, a Igreja ao fazer uso da Palavra, numa interpretação à luz do patriarcado, reforça e consolida a opressão à mulher. Assim é, quando ao falar de Maria, esta é apresentada como modelo de mulher pronta para dizer sempre sim. Casta, pura, inocente, obediente, humilde, prestativa... Mulher resignada que aceita tudo sem contestar, sem questionar. Mulher que nada pede. Nada quer, nada deseja...
É possível, portanto, entender, quando nos deparamos em pleno século XXI com mulheres submissas, dependentes, cabisbaixas, apenas cumpridoras de seu papel de mãe e esposa!
Porém, o custo que temos que pagar para manter essa supremacia masculina é muito grande. O fardo é pesado. Nossos corpos estão machucados. Nossas mãos, calejadas. Nossa pele, ferida...
É comum saber de mulheres que querem escapar desse jugo e são mortas, assassinadas, perseguidas... Essa supremacia é mantida numa relação de força e poder. E, para mantê-la, mata-se se for preciso.
Mas nem sempre a história foi construída à luz do patriarcado. Houve um tempo em que...
... A grande mãe
Sabemos, por exemplo, que o primeiro elemento cultuado pela humanidade foi a Terra. Chamada de Terra Mãe era considerada a divindade da fertilidade.
A evolução vai transformar a Terra Mãe em Deusa Mãe. E com o passar do tempo não foi difícil associar a fertilidade e a fecundidade da Terra à Mulher. Ambas eram capazes de gerar Vida. A procriação transfere respeito e admiração à mulher.
O culto à mulher desenvolve-se prodigiosamente. Ela passa a ser a Senhora da Vida, a Magna Mater, a Deusa Mãe, a Grande Deusa Soberana... Reina em equilíbrio com outros deuses e deusas. Como ser frágil e delicada jamais aparece. A deusa e o deus são imagens equivalentes do divino. São a expressão da soberania e do poder divinos, em forma de mulher e de homem.
A mulher/mãe criadora e geradora de vida desempenhou um papel extremamente importante na história das religiões. Ela foi a primeira divindade conhecida, a mais antiga.
O culto à Grande Deusa Mãe se estendeu por muitos e muitos séculos. Podemos dizer que se manteve presente no judaísmo chegando até o cristianismo.
A história nos mostra, portanto, que o primeiro culto foi oferecido a uma Deusa. A Deusa Mãe ocupa seu lugar de soberana divina e o princípio materno exerce poder sobre os povos por muitos e muitos séculos como vimos. Ela é promotora, doadora da vida e de vida!
Mas um dia...
... A grande deusa mãe é ameaçada!
Por volta do ano 3000 aC, mais ou menos, o ser humano se organiza de forma diferente. O homem deixa de ser nômade e se sedentariza. Assume seu espaço. Delimita seus limites. Finca suas raízes. Domestica os animais. Começa a cultivar o solo. Mais ou menos no ano 700 aC o homem inventa o arado e com ele fere, rasga a terra e nela introduz a semente.
Com a domesticação dos animais o homem descobre que a fêmea animal não gera sozinha. E se a fêmea animal não gera sozinha, também a fêmea humana não gera sozinha. Conclui, então, que tanto a fêmea humana quanto a terra funcionam como receptáculo do grão que lhes é introduzido.
Esta descoberta pode ter sido a causadora da mudança de atitude do homem em relação à mulher. Da mulher foi retirado o cetro e a coroa de ser mágico e divino. A mulher perde todo o seu prestígio. A partir daí tudo contribui para o declínio do poder feminino e para uma ascensão do que vem a se denominar o patriarcado.
A situação da mulher mudou bruscamente até ser submetida à supremacia masculina.
Esta supremacia masculina imposta às mulheres configura-se como definidora e definitiva para o surgimento de um Deus Único que, fortalecido pela Monarquia, vai constituir-se num Deus Guerreiro, Senhor dos Exércitos, Todo Poderoso. Guerras e idolatria o transformam num Deus irado, vingativo, capaz de passar a fio de espada lactentes, jovens, adultos e idosos (Jr 44,2- 14). Um Deus vulnerável diante da impureza, defendendo-se matando o impuro. Um Deus que impõe sua Lei sem admitir transgressões, ciumento que era de sua soberania. O patriarcado cria corpo. O Deus Único se impõe como Senhor Absoluto de tudo o que existe.
O Templo, lugar de unificação passa a ser lugar de segregação. De casa de Deus passa a ser a casa do Rei. O Rei é o mediador necessário entre Deus e os homens. Mais tarde esse poder de mediar passa para as mãos dos sacerdotes que criaram normas, leis, estratificando ainda mais a sociedade e criando uma barreira enorme nas relações humanas e divinas. Formaram uma estrutura sócio-religiosa-hierárquica exclusiva e excludente. Criaram fortes mecanismos para manter a separação e o privilégio. Inventaram a lei do puro e impuro, sagrado e profano...
Porém o projeto do Deus Único não consegue extirpar de vez a imagem da Deusa. A Grande Deusa Mãe se mantém viva no imaginário popular, no inconsciente coletivo. Está apenas ocultada, adormecida... E renasce quando o verbo se faz carne no corpo da Mãe. E o Verbo era Deus (Jo 1,1)...
... E o sonho renasce!
O Verbo se faz carne no corpo da Mãe! E o Verbo era Deus! ... Então Deus é gerado pela Mãe, a Grande Mãe! O Verbo se faz carne no corpo da mulher e sem a participação do homem! Como quem reage a um sistema que fere a humanidade. O patriarcado fere a humanidade. Fere o corpo da mulher e do homem.
E Jesus, o Verbo encarnado, o Deus Conosco, entra na história num tempo em que as mulheres eram extremamente discriminadas, marginalizadas, excluídas pela sociedade patriarcal e androcêntrica. O homem via na mulher um ser profano. Impura simplesmente por ser mulher! Culpa essa que lhe foi outorgada à revelia e que a tornava inferior.
Mas Jesus, o Verbo encarnado nasce no corpo da Grande Mãe/Mulher. E nasce a esperança. E nasce o sonho de igualdade!
O imaginário popular que retém em seu inconsciente coletivo a imagem da Deusa Mãe resgata em Maria, a Mãe do Salvador, a Grande Deusa Mãe. Busca em Maria preencher o vazio deixado pela proibição de se cultuar a Grande Mãe.
E é a luz do corpo de mulher que busco em Maria, no pouco de sua história que chegou até nós, descobrir essa insistência, essa persistência em manter vivo o sonho de construir um mundo de igualdade, sem exclusão, onde crianças e mulheres cantam e encantam, onde jovens acreditam no futuro e os pais sejam também mães e juntos possam passar aos filhos e filhas a alegria de viver. Viver plena e abundantemente!
Sei que esse sonho não é exclusividade de mulheres. Dele faz parte homens que dispensam o critério de “macho” e sabem deixar sua centralidade e poder de lado e, a exemplo de Jesus, procuram construir o Reino onde a Vida está acima de tudo. Dele fazem parte todos os homens que procuram não se enquadrar na imagem tradicional do homem: seguro, frio, corajoso, bem sucedido, agressivo e provedor, mas que sua coragem se encontre no fato de reconhecer sua fragilidade e sensibilidade. De ser capaz de amar. Amar plenamente. Quem ama plenamente promove Vida em abundância.
Relendo o texto de Jo 2,1-12
A mãe/mulher e o filho/homem mostram o que é o Reino!
Em Jo 2,1-12, temos o convite para nos colocar de pé. Pôr-se a caminho. Resistir à toda violência, à toda opressão. Temos o convite para Vida... Para promover Vida, gerar Vida!
Maria e Jesus estavam numa festa de casamento. O noivo não tem nome. A noiva não é citada. Os demais personagens são: os discípulos, o mestre-sala, os serventes... Mas, Maria estava lá! É ela que, atenta, percebe que há algo errado. E denuncia: “eles não têm mais vinho!” (Jo 2,3). O que significa faltar vinho?
Perguntando a Taty, 17 anos, ela diz: “meu pai faz vinho pra nós. Todos os dias ao meio-dia nós tomamos vinho. Vinho é saúde. É alegria. É festa. É esperança. Vinho faz bem pro coração, pra alma, pro corpo. Tira o cansaço. Dá sono.”
“... Eles e elas não têm mais vinho!”
Tia Aurora quando toma uma taça de vinho “esquece todas as tristezas”. Mulher sofrida. Abatida pelas intempéries e incertezas da vida, começa a rir já no primeiro gole. E ri. E conta histórias. Resgata a alegria...
“... Eles e elas não têm mais vinho!”
Cleusa e Cleir quando chegam em casa, cansadas da lida, e ainda precisam fazer a comida, lavar, passar... Gostam de tomar um pouquinho de vinho. Devolve-lhes as forças. Tira-lhes a rigidez do corpo. Têm vontade de cantar...
“... Eles e elas não têm mais vinho!”
Senhora Sagrada da Festa
Divina Virgem do Riso
Mãe dos corpos e dos Bailes
Chama teu Filho
apressa o milagre
abre as torneiras do riso da gente
Afrouxa o sorriso dos filhos do povo
acende a cintura das filhas da aldeia
re-inventa o milagre
multiplica a fartura
deusa da alegria e do vinho...
(Nancy Cardoso Pereira)
Maria apressa o milagre. Provoca Jesus e o incita a tomar uma atitude. Conhecedora de seus próprios poderes e de seu domínio manifesta sua autoridade. Tem pressa em devolver a alegria, a esperança, à fartura, o canto, o riso, o encanto ao povo sofrido cansado e abatido.
Devolve a esperança, a confiança num mundo melhor, onde a Vida seja respeitada, promovida...
Maria tem autonomia. Age sem pedir licença. Não espera ser autorizada. Autoriza: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). O Filho, sabedor de seus poderes compactua com ela e diz: “Enchei as talhas de água” (Jo 2,7). O perfeito casamento sagrado: Mãe e Filho unidos e unindo-se para assegurar a dignidade, a alegria, o bem estar, o direito a Vida Plena!
O sentido fatalista da “ordem das coisas” culturalmente imutáveis é quebrado. Derruba-se a muralha que oprime e exclui.
Em Maria, resgata-se e dá-se dignidade a todas as mulheres. Não são mais conhecidas e reconhecidas como “mãe de...”, “esposa de...”, “filha de...” São mulheres!
A mulher só pode ser mãe porque é mulher. Antes de ser esposa, filha, irmã, médica, professora, etc. a mulher é mulher! E como tal é reconhecida por Jesus: “Mulher, que tenho eu contigo? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4).
Jesus a exorta a desinteressar-se do caso. Mas não é possível continuar vivendo numa sociedade excludente, opressora e machista. Atuam juntos, quebrando leis e preconceitos da época. Jesus não descansa no sábado (dia sagrado para os judeus) e faz o milagre acontecer. Dirige-se a Maria não como mãe, mas como Mulher! Maria, também, não espera a hora. “...Esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” (G. Vandré) A hora é agora. É já!
“Tu guardaste o vinho bom até agora...” (Jo 2,10). Para quê economizar alegria? Para quê economizar esperança?Jesus e Maria esbanjam vinho!
“Havia aí 6 potes de pedra de uns 100 litros cada um” (Jo 2,6). São mais ou menos 600 litros de vinho! É o bastante para aquele povo embebedar-se de alegria, de esperança, de festa, de riso, de “comilança” (sempre tem muita comida nas festas de casamento). Mata-se a fome de todo mundo!
É para todas e todos esbanjar com fartura e desfrutar de forma prazerosa da Vida Plena em abundância. É para todos e todas se afogarem no vinho da liberdade – as talhas de pedra “serviam para a purificação dos judeus” (Jo 2,6). Fora a impureza! O pecado! A culpa! E viva a liberdade!
Maria e Jesus devolvem o gosto de viver, a embriaguez dos corpos felizes, o torpor do sono depois do amor!...
Maria não aceita instalar-se. Derruba o status quo. Compromete-se com a Vida em Liberdade e com igualdade. Quebra a ideologia machista que afirma ser a mulher pertença de alguém. Acaba com o princípio da receptividade passiva das mulheres. É ousada. Corajosa. Atrevida. Toma iniciativa. Coordena. Comanda. Não pede licença aos donos da festa...
Essa atuação de Maria em igualdade de condições com Jesus é uma amostra grátis do que é o Reino!
As festas de casamento sempre reúnem muita gente. Ali se encontravam judeus, galileus, samaritanos e helenistas. A comunidade do discípulo amado era aberta e acolhedora. Respeitava o ser de cada um. Acolhia os diferentes. Trabalhava os conflitos numa perspectiva de inclusão, de respeito mútuo.
Nela, a mulher tem respeito e dignidade pelo fato de ser mulher. A partir do reconhecimento da dignidade de Maria como mulher, o prazer e a alegria voltam ao corpo de todas as mulheres. A Lei do Templo, machista e massacrante, é contestada publicamente quando a água que servia para a purificação dos judeus é transformada em vinho para festa e alegria do povo!
No Evangelho da comunidade do discipulado de iguais as mulheres estavam inseridas no projeto que expressava o grande sonho de Jesus: vida em abundância (Jo 10,10). E Maria apressa o milagre. Faz o sonho acontecer no corpo de todas as mulheres. Estas se vêem inseridas no Projeto, não como componentes acidentais, mas como participantes ativas, isentas de qualquer preconceito, de todo e qualquer tipo de discriminação.
Em Maria, a mulher não se curva ao domínio do patriarcado. Em Maria afirma-se, como manifestação do imaginário popular, o culto à Mãe. O povo não se conformava em excluí-la de seu posto. E resgatam, em Maria, a imagem da Grande Mãe, a Soberana.
Maria não se apresenta em Jo 2,1-12 como mãe ciosamente dobrada sobre o Filho divino, mas como a Grande Mãe que com sua ação favorece, fortalece e consolida a fé da comunidade.
Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
que me ensinaram
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu
(Alberto Caieiro-citado por Rubem Alves)]
... É preciso raspar a tinta da cultura patriarcal. Esquecer as palavras ideológicas e machistas usadas para trazer até nós a imagem de Maria. Palavras que grudaram em nosso corpo, na nossa pele. Feriram nossos pés. E nos fazem mal. Nos sufocam. Não conseguimos respirar intoxicadas pelo cheiro da tinta da apatia, da mudez, da passividade... Nosso corpo está coberto pelas tatuagens que só interessam a quem quer continuar conservando Maria impassível, indiferente. Adorada nos altares, mas ausente da realidade vivida por todos os seus filhos e filhas.
Rubem Alves diz que o “mundo de fora é um mercado onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados. As pessoas pensam que, se comprarem o pássaro certo, terão alegria. Mas pássaros engaiolados, por mais belos que sejam, não podem dar alegria.”
Hoje, a Igreja, a qual eu pertenço, parece-me, um mercado que procura vender uma imagem de Maria engaiolada. Ela não é ela mesma. Calaram sua voz. Pouco falaram dela. Pouco disseram do que fez. Não canta. Não anda. Não dança. Não se enfeita para o amor. Não vai ao encontro do amado. Só chora “lágrimas de sangue”, sem, no entanto, modificar as feições de seu rosto. Não acompanha o ciclo da vida, está sempre jovem, bela, sem rugas. Olhar sempre terno e distante, na maioria das vezes triste e ausente. Coberta. Muito coberta. A ponta dos pés aparece na barra do vestido! Magra. Muito magra! Um holofote a ilumina sempre. Desejos? Se os tem são inconfessáveis! Mãos estendidas sugerindo acolhimento. Refém adorada!
Destino ou caminho preparado? Fruto de uma ideologia que privilegia o masculino em detrimento do feminino! Modelo de mulher impossível: sexualmente sempre pura, virgem e mãe ao mesmo tempo. Figura simbólica! Num corpo engaiolado não pode haver alegria!
Como se pretende sonhar com uma igreja alegre? Nós, mulheres, nem sempre podemos ser nós mesmas. Se assumimos alguma função na Igreja, temos que fazer segundo os padrões determinados pelos homens que impõem as leis da Igreja. Enquanto nós mulheres continuarmos desempenhando funções de liderança na igreja de acordo com os padrões masculinos, em nada estamos contribuindo para fazer da Igreja espaço de vida. Esta continuará funcionando como “organização” ou “instituição” dominada pelos homens. A mulher precisa ser ela mesma. Precisa quebrar as grades de uma Igreja fortemente patriarcal que ainda a aprisiona, a limita, a enquadra dentro de padrões predeterminados. E alçar vôo. Ocupar espaço e agir com a dignidade de direito que lhe foi outorgada.
O culto mariano não foi promovido pela Igreja. Esta, vendo-se ameaçada pelo enorme poder que emanava de Maria tudo fez para ocultar e fomentar a depreciação da mulher. A marca negativa imputada à mulher atingia Maria...
Mas apesar disso Maria continuava a exercer seu fascínio e poder. Era adorada juntamente com o Filho. Por isso, o culto à Maria foi sendo estabelecido aos poucos, a partir das pressões populares, difíceis de serem contidas.
A partir do século IV, quando o cristianismo passou a ser a religião do império, houve a proibição de cultuar as deusas pagãs. O silêncio da Igreja em relação à Maria tornou-se intolerável para um povo acostumado a praticar seus rituais à deusa. Voltaram-se para Maria! O fascínio exercido por Maria se fortaleceu. Ela, Maria, é a Grande Mãe dos cristãos, a Grande Deusa Mãe!
No século V, a Igreja adota uma atitude política para que a fé em Cristo, apoiada no Pai não fosse ameaçada pela fé – cada vez mais crescente – em Maria: Maria é aceita no magistério Católico!
A Igreja, para que sua liderança não fosse abalada, abriu uma brecha e o culto à Maria pode se manifestar. Mas com uma condição: ela não podia ser objeto de adoração. Que se adorasse o Pai, o Filho e o Espírito Santo! Maria não era divina.
Ainda hoje alguns pregadores afirmam que Maria não pode ser adorada, mas somente venerada, porque não é divina. Porém, o dicionário nos diz que venerar e adorar são sinônimos. Querer medir, quantificar o valor, a força das palavras no coração humano é manipular conceitos, verdades...
Maria é adorada, venerada, ritualizada, cultuada sim! E de uma forma muito intensa, muito forte, muito presente. Dela procede uma grande força. É apelo às mulheres humilhadas, violentadas e feridas. É advogada, defensora do povo pobre, oprimido e explorado. É esperança. É refúgio. É portadora da alegria, do prazer. Protege. Acolhe. Defende. Caminha com seu povo. É Redentora. Dispensadora de graça. O criador do universo tomou forma humana no ventre de uma mulher, logo Maria é responsável por um acontecimento prodigioso: gerara o próprio Deus! Portanto, digna de ser adorada sim!
Todo o esforço para neutralizar o fascínio e o domínio exercidos por Maria foi em vão. E no final do século IV e início do século V Maria é nomeada Nossa Senhora. Igrejas foram consagradas à ela. Santuários foram construídos e dedicados à ela. Tornou-se patrona de Igrejas. A Senhora da Vida passa a ser a Nossa Senhora. E o povo a chamou de Nossa Senhora dos Prazeres, Nossa Senhora da Consolação, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Aparecida... Mãe da Humanidade, Mãe dos Aflitos, Mãe das pessoas que sofrem... Muitos foram os nomes dados à ela! Ela assumiu muitos rostos. Todos os rostos da humanidade! O rosto negro, o rosto índio, o rosto pobre, o rosto das mulheres sem rosto, o rosto das crianças de rua, o rosto dos desempregados/as, o rosto das mães que perdem seus filhos pra guerra do tráfico e da violência...
Para os povos antigos dar nome à algo ou alguém era o mesmo que dar existência, identidade e exercer poder sobre o outro. Ao ser nomeada Nossa Senhora, Maria teve sua existência atestada. Ganhou identidade de mulher, de mãe, de deusa!
Em Maria, nesta Maria, resgato minha identidade, saro minhas feridas. Nesta Maria, reconheço-me mulher, e faço minha as palavras de Maria Soave:
Amigo, sou da terra,
Nasci do útero da nação dos pinheiros araucárias.
Colo quente, terra de povo livre.
Terra da humanidade terna e fraterna.
Sou mulher-araucária
Mulher com raízes, profundas, olhos verdes.
Mulher-canto, mulher-encanto, vôo, sonho e utopia.
Mulher nó de pinho, teimosa, dura, resistente.
Amigo, sou de pão,
Do fogo aprendi a lição da dureza,
Do trigo a ternura e a doçura
E do pão a ser alimento do teu caminhar.
Deste eterno mudo mudar
Nasce a vida, jorra o sangue.
Sou de lua, de sonho e de desejo.
A minha noite é mais clara do que o dia
A minha escuridão é grávida de todas as alvoradas.
Amigo, nasci mulher. É suficiente.
Bibliografia
ALVES, Rubem. A Festa de Maria. Campinas: 2ªed. Papirus
BARROS, Maria Nazareth Alvim de. As Deusas, as bruxas e a Igreja. Rio de Janeiro, Ed. Rosa dos Tempos, 2001.
Dicionário de Teologia Feminista. Petrópolis: Vozes, 1997.
SANTISO, Maria Tereza P. A Mulher Espaço de Salvação. São Paulo: Paulinas.
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1991
PEREIRA, Nancy Cardoso. Amantíssima e só. São Paulo: Olho D´Água, 1999.
SOAVE, Maria. Luas ...,Contos e encantos dos Evangelhos. São Paulo: Paulus, 2000.
______. A Amante, A Sábia, A Guerreira, A Feiticeira, São Leopoldo São Leopoldo: Centro de Estudos Bíblicos, 2002.
RUETHER, Rosemari R. Sexismo e Religião, São Leopoldo: Sinodal.
MURARO, Rose Marie. A Mulher no Terceiro Milênio, 3 ed., Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro.
REIMER, Ivoni Richter. O Belo, as Feras e o Novo Tempo, São Leopoldo/Petrópolis: CEBI/Vozes, 2002.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Ritmos e Ciclos Femininos
A menstruação é o símbolo poder feminino, menstruar
significa estar pulsando junto com a Terra, significa que carregamos em nosso corpo todas as fases da lua, o poder da vida -morte- renascimento. Menstruação é vida, é o ciclo da vida. Menstruar nos fortalece. É o momento de nos centrarmos em nós mesmas, nos conectarmos com nossa alma, receber insights, sentir como estamos dançando a dança da vida. As Antigas Tendas da Lua serviam para isso, as mulheres iam para essas tendas quando entravam em seus períodos de menstruação, era um momento de descanso, um período para se renovar e renovar a Terra, ofertando a ela o sangue menstrual.
Período de sentar em círculo com as outras mulheres e compartilhar conhecimento, de se ter visões de águia, de receber ensinamentos, profecias, de estar mais perto das Sábias Avós.
Os Círculos de Mulheres, movimento mundial, está retomando , trazendo de volta a nossa memória essa sabedoria ancestral, o compartilhar de experiências, a coragem e a humildade de se ver na face da outra, a sabedoria de que mulheres juntas são poderosas sim, que se dão bem sim, que somos uma irmandade ou irmandarte forte, ancoradas no amor, que podemos juntas nos curar e curar aos outros, que podemos ter beleza e leveza em nossas vidas, porque somos leves e belas, somos mulheres de verdade, no mais profundo rubro e rosa da palavra.
Para terminar mais um trecho do Livro Tenda da Lua da Jamie Sams:
"O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido em nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados aos órgãos sexuais, poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser respectivamente a Terra e a Lua. As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes e oráculos de suas tribos há séculos. As mulheres precisam aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade".
Bjks Coloridas
Chris
Círculos de Mulheres na Cirandda da Lua
Informações: www.ciranddadalua.com.br
Tels: 11. 2645-1237 ou 11. 2645-1236
email: ciranddadalua@yahoo.com.br
terça-feira, 21 de setembro de 2010
A "dança do ventre" e o parto - by Morocco
Danse du ventre, ou, para usar o nome norte-americano deliberadamente cunhado com equívoco, Belly Dance não é o que a sociedade ocidental pensa que ela seja, isto é, uma dança de sexo e sedução. Esta é uma crença errônea e ignorante, reforçada e perpetrada por escritores de teatro e cinema muito preguiçosos para fazer pesquisa. Também não é uma dança de "barriga", pois trata-se muito mais do que apenas os músculos do estômago.
Dança Oriental, como os árabes a chamam, é uma das mais antigas formas de dança, origina -se com ritos religiosos pré-bíblicos em reverência a maternidade e dois de seus movimentos (os dois únicos realmente feitos com os músculos abdominais) tem como seu ponto de vista prático a preparação das mulheres para as tensões do parto. Assim, é também, de certa forma, a forma mais antiga de instrução de parto natural.
De acordo com a Farab Firdoz, uma dançarina de Bahrein, Arábia Saudita, esta dança ainda era utilizada e realizada em partes menos ocidentais de seu país nos anos 50, em torno de uma mulher em trabalho de parto, por um círculo de amigas e mulheres de sua tribo. Nesta forma ritualística de dança, os homens são proibidos de assistir. O objetivo aqui é hipnotizar a mulher em trabalho de parto fazendo com que ela imite os movimentos com seu próprio corpo. Isto facilita grandemente o nascimento do bebê e reduz a dor das contrações do útero. E ajuda a mãe a se movimentar a favor da movimentação uterina ao invés de ir contra aos movimentos de contrações.
Infelizmente, a civilização ocidental trouxe um erotismo doentio ao Oriente Médio juntamente com seus avanços tecnológicos. A dançarina do Shamanka, Armen Ohanian* diz:
"Uma noite no Cairo, com os olhos absolutamente incrédulos eu vi, uma das nossas mais sagradas danças degradadas de forma brutal, horrível e degradante. É nosso poema, do mistério e da dor da maternidade, que todos os verdadeiros asiáticos assistem com reverência e humildade, nos longíquos cantos da Ásia, onde o sopro destrutivo do Ocidente não tem ainda penetrado. Nesta Ásia antiga, que manteve a dança em sua pureza primitiva, ela representa maternidade, a concepção misteriosa da vida, o sofrimento e a alegria com que uma nova alma é trazida para o mundo.
" Poderia algum homem nascido de uma mulher contemplar este objeto tão sagrado, expresso em uma arte tão pura e tão ritualística como nossa dança oriental de outra maneira senão em uma profunda reverência? Essa é a nossa veneração asiática da maternidade, onde países e tribos tem seu juramento mais solene sobre o ventre, porque é a partir desta taça sagrada que a humanidade progénie.
"Mas o espírito do Ocidente tocou esta dança sagrada e a tornou a infame danse du ventre, o 'hoochie koochie'. Para mim, uma revelação nauseante da profunda e insuspeitada brutalidade humana, para os outros era - divertido. Eu ouvi os europeus rindo. E até vi sorrisos lascívos lábios asiáticos, eu fugi ".
Gerações de mães Beduínas e bérberes podem ter de dar á luz aos seus bebês não só sem o benefício de hospitais e os modernos métodos anti-sépticos, mas também, sem o conforto e o auxílio muscular do que é definitivamente um ritual ancestral. Isto é porque alguns árabes agora estão começando a ver o sexo como simplesmente um exercício de ginástica para uma função natural. Como resultado, o ritual está morrendo lentamente.
Outros povos, entre eles os havaianos e Maoris da Nova Zelândia, tiveram suas próprias danças de preparação para o nascimento de bebês, envolvendo os músculos pélvicos e abdominais. Os havaianos costumavam ter uma hula chamada "Ohelo", que foi feita em uma posição reclinável, por ambos os sexos, todas as manhãs. Em1936, Maoris ainda praticavam este exercício.
Uma pequena seita muçulmana Allaoui acreditam que o Messias vai nascer de um homem, baseados em que a mulher é indigna de uma honra tão elevada. Sob essa suposição, os homens praticam Dança Oriental em preparação para a honra de dar à luz a seu salvador.
A idéia de que as crianças devem nascer na dor é uma idéia religiosa, baseada no conceito cristão de pecado original e da penitência exigida pelo pecado. A Bíblia diz, "na dor dará a luz a seus filhos". Nada é dito sobre a dor excruciante ou indevida, e ainda o pensamento de angustiantes dores do parto é martelado em nossascabeças desde a mais tenra idade. Assim, o parto é abordado com orgãos e músculos tensos de medo e antecipação. Em vez de relaxar e ajudar a natureza , colocamos obstáculos em seu caminho.
A idéia mais recente em obstetrícia hoje é preparar as mulheres grávidas para o momento do parto através de hipnotismo ou aulas de treinamento especial. Que podem agora ser ultra-modernos e ainda dar a luz como "parto natural". Os médicos descobriram recentemente que bebês nascidos dessa maneira veem ao mundo mais alertas e sem o torpor induzido pela anestesia..
O que o hipnotismo realiza, embora temporariamente, é a supressão progressiva da sugestão do conceito mental de parto doloroso. A mulher relaxada agora pode se concentrar em apenas a ajudar a natureza, movendo-se com as contrações do parto.
Isto é idêntico ao realizado pelo círculo de dança de mulheres de tribos árabes que ao hipnotizar a mulher em trabalho de parto fazendo-a imitar seus movimentos pélvicos sem interrupção. Sua tarefa é muito mais fácil, já que não existe nenhum medo infundado e exagerado sobre as dores do parto nas sociedades primitivas.
Quem pensaria em mandar um homem que tem um trabalho sedentario para correr nas olimpíadas? Por que então a sociedade ocidental espera de uma mulher, que nunca tenha usado seus músculos pélvicos a não ser apenas para segurar sua cinta-liga, dar a luz com facilidade, uma façanha que sobrecarrega os músculos mais do que qualquer competição atlética ?
Parto deve ser preparado. Músculos inativos devem ser trabalhados pouco a pouco, passo a passo. Só é preciso um pouco de trabalho, que certamente não prejudica a mãe ou o feto. Fortalecer os músculos também ajuda o desempenho da criança na gravidez e reduz estrias no abdômen.
Treinamentos, tais como cursos de educação para parto em um dos principais hospitais em Nova York, tentam realizar em poucos meses ou semanas o que deveria ter sido iniciado na infância: saber moldar os músculos pélvicos usados na gravidez e no parto e recuperar a forma e muscular e tônus após o nascimento.
A primeira lição na ficha de exercícios desse hospital diz: "exercícios de concentração - objetivo: aprender o controle muscular dos grupos musculares. É dada especial atenção a forte contração e relaxamento absoluto do resto do corpo."
A técnica de Dança Oriental é de contração e relaxamento, enquanto todos os outros músculos que não estão envolvidos no movimento estão relaxados.
Aula 2 vai em: "fique com os joelhos relaxados, pés paralelos e com o peso do corpo distribuídos ao longo dos arcos de seus pés. Balance a pélvis para cima, aperte lentamente suas nádegas e músculos abdominais inferiores. Deite de costas, com as pernas dobradas, empurre de volta firmemente ao chão, contraia os músculos abdominais ao mesmo tempo - relaxe."
Esta é uma posição adotada em quase todas as Danças Orientais em um momento ou outro, onde a cabeça alcança o chão em um cambrée e relaxa o corpo até que a coluna vertebral repousa no chão.Os joelhos são dobrados e os pés para fora e perto das coxas. Respiração rítmica lenta é seguida pela respiração rápida superficial, aceleração do que aumenta com contrações, produzindo uma variedade de movimentos abdominais.
Uma das mulheres, que assistiram aulas deste tipo, era a esposa de um proeminente advogado de origem Turca e mãe de gêmeos. Ela me disse que um dos movimentos de seu obstetra enfatizava foi um movimento de ondulação do abdomen, o antigo "belly roll" árabe - o que agora chamamos de "camelo".
Foi explicado que a parte superior da onda, como o médico chamava o movimento, era para ser feito entre as contrações do útero e a parte inferior da onda, ou sendo, para baixo, era para ser feita com o ventre contraído. Isso iria ajudar a mãe consideravelmente expulsando o bebê com desgaste mínimo em todos os órgãos internos e músculos envolvidos.O combate as contrações através do medo e a preocupação com os pensamento de dor apenas tensiona os músculos e rasga-os em vez de permitir a eles se esticar suavemente durante as contrações uterinas e relaxamentos.
O próprio movimento de ondulação não é tão fácil para aprender, quando feito de forma errada só serve para distender os músculos do estômago. A coluna vertebral, pélvis, diafragma e abdômen inferior estão envolvidos. Isso é extremamente difícil de descrever ; deve ser demonstrado, explicar passo a passo, sentir gradualmente músculo pelo músculo.
Cada músculo deve ser pouco a pouco trabalhado e desenvolvido por sua vez, antes do conjunto todo poder ser usado, para que cada fração de segundo pode ser perfeitamente controlada. Ao invés de nitidez e aspereza, deve haver um movimento suave, circular, ondulante.
Felizmente, o comentário da mulher turca que mencionei deu a ela mais do que apenas o conhecimento de Dança Oriental à uma leiga e, por conseguinte, um melhor conhecimento e controle sobre seus músculos pélvicos. Posteriormente, ela aprendeu todos os exercícios com maior rapidez e facilidade do que a mulher média produzida por uma sociedade que está apenas descobrindo seus quadris através de algumas das danças latinas e sociais mais recentes.
Estes são os músculos que tem sido usados por quase todos os árabe e turcos - a partir da infância , na execução de algumas das suas danças folclóricas : vulgarmente e erradamente referidos na sociedade ocidental como a danse du ventre ou, pior ainda, da barriga ( belly dance).
* Armen Ohanian: dançarina persa, que escreveu o artigo em meados do século XIX quando se deparou no Egito com a dessacralização da Dança ritual.
Traduzido por Christine Avedikian com autorização de Morocco.
Christine Avedikian
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
RAÍZES
Este texto é aquele que comentei no Ventre de Vênus, na vivência da Michele Doula....
RAÍZES:
Morocco New York - USA 1973
“Quando comecei com a Dança Oriental (no tempo em que Noé saiu da Arca) fui atraída pela beleza de sua música e de seus movimentos, e não imaginei que ela poderia ser mal interpretada por pessoas ignorantes e mal informadas. Na minha inocência, acreditava que a graça de uma talentosa bailarina era suficiente para provar a beleza e a legitimidade desta antiga forma de arte. Como eu estava errada! Perdi a conta de quantas vezes minha moral e valor foram julgados baseados neste nome vulgar “belly” dancing (dança do “ventre”) e em apresentações anteriores de pessoas que, como em toda profissão, levam a um baixo denominador comum. Foi então que iniciei uma séria pesquisa histórica com o intuito de evitar as besteiras fantasiosas que estavam sendo publicadas, filmadas, apresentadas e acreditadas pelos Estados Unidos, parte do Canadá e Europa…
Fiquei impressionada com o fato de que a maioria das informações em inglês, francês e alemão eram dadas por dois tipos de pessoas: racistas de mentes sujas, incluindo os puritanos missionários colonizadores que baixavam o olhar a tudo que dissesse respeito a tradições de outros povos, suas cerimônias e divertimentos. Julgavam tudo sob uma ótica esnobe tipicamente européia, que considerava o corpo como algo pecaminoso e a valsa como erótica e depravada – e – aqueles que eu chamo de “antropologistas de prostíbulo”: homens jovens (e não tão jovens) que viajavam ao Oriente Médio como parte de sua “educação” e escreviam sobre isso por dinheiro, sensacionalismo ou por causa de pais castradores. Não encontrei nenhum caso em que algum desses HOMENS tenha tido a oportunidade de participar do dia-a-dia de uma família ou mesmo de uma tribo, de maneira a verem os rituais de mulheres de família em suas próprias casas. Mesmo que tivessem amigos homens na comunidade islâmica o acesso às mulheres lhes seria negado.
Sem mencionar o fato de que as tradições de muitos países orientais foram abandonadas em prol das necessidades ecônomicas das grande cidades onde europeus iam buscar seus parceiros de negócios, e por burocaratas desses países ansiosos por obter favores de seus opressores denegrindo, abandonando e caluniando suas raízes e tradições nativas.)
A suspeita de que havia uma ligação entre os movimentos de ondulação da dança oriental e o ato de dar à luz veio de repente em Fevereiro de 1961 quando, ao terminar uma apresentação de dança no Arabian Nights na cidade de Nova York, fui abordada por uma mulher saudita, Farab Firdoz, que se recusava a acreditar que eu não fosse árabe pois, segundo ela eu dançava de maneira autêntica. Ela era dançarina e aprendeu com a mãe e a avó que também foram dançarinas. Ela me falou que o “belly roll” (ondulações de ventre), as vibrações de ventre e alguns movimentos de chão eram baseados em movimentos do trabalho de parto e que milhares de anos atrás, faziam parte de cerimônias religiosas. Com o advento do monoteísmo e outras restrições religiosas, essas cerimônias perderam o caráter religioso e passaram a ser praticadas livremente como entretenimento (em platéias exclusivamente feminina ou misturadas), de forma ritualística/terapêutica. Em áreas remotas do oriente onde os costumes ocidentais ainda não penetraram, as mulheres da tribo se juntam em torno da mulher em trabalho de parto e fazem certos movimentos com seus ventres encorajando-a a fazer o mesmo, de forma a facilitar o parto e lembrar que cada uma delas divide o mesmo destino e as mesmas experiências como mulher. Praticando esses movimentos em várias danças folclóricas desde a infância, seus músculos abdominais são fortes e melhores preparados para o stress do parto.
Claro que ela não me contou tudo isso logo no primeiro momento quando me abordou no camarim, isso veio após algumas semanas de amizade e minhas táticas de interrogação. Para falar a verdade, eu acho que ela já estava cansada desse assunto. Então duas mulheres sefaradis mencionaram um curso LaMaze (método para o parto sem dor) no qual os principais movimentos ensinados eram as ondulações e os tremidos de ventre ali chamados de “rotação da pélvis” e “respiração cachorrinho” (termo usado no Brasil), o que provocou risos entre elas. Procurei checar essas aulas LaMaze com um casal no Hospital Mount Sinai e descobri que elas estavam certas. Minha curiosidade aumentou, mas ainda não estava convencida.
Em 1962, numa livraria em Londres encontrei “A Dançarina de Shamahka” (The Dancer of Shamaka) de Armen Ohanian e a passagem que citei em meu artigo de 1964, “A Dança do Ventre e o Parto” (Belly Dancing and Childbirth) assim como o resto do livro que, forneceu informações sobre datas e contextos culturais de onde foi escrito. Eu não acreditei em tudo o que o livro dizia, questionei novamente minha amiga saudita e ela me falou que recentemente, coisa de 25 anos atrás (1937), ela estava presente quando um grupo de mulheres da tribo de sua mãe juntaram-se ao redor da cama de uma mulher em trabalho de parto fazendo esses mesmos movimentos, inclusive ela própria. Depois foram feitas outras danças para celebrarem o nascimento, inclusive uma repetição mais elaborada da dança o parto. Homens eram proibidos de assistir a nascimentos ou a celebrações de mulheres, eles tinham suas próprias danças e celebrações para eventos dos quais as mulheres, igualmente, não participavam. Comecei a acreditar.
Em 1963, o Pavilhão de Marrocos na Feira Mundial de Nova York abriu e eu estava lá no primeiro dia para o primeiro show. Fiquei para mais quatro. Os diretores/promotores do pavilhão, os quais eu já conhecia (isso é outra história!) perceberam meu interesse (por que será?). Eles estavam surpresos e contentes com a minha seriedade a respeito da dança e da cultura árabe e então passaram a me dar informações (e comida também, muita!). Em uma dessas conversas, um deles disse que sua esposa estava voltando ao Marrocos, para a cidade de seus primos, e que uma delas estava para ter bebê pela primeira vez e que ela estava indo para ajudar a “dançar o bebê ao mundo”. O quê ? E ele repetiu a mesma história que Farab havia me dito dois anos antes. Primeiro a mulher saudita e agora um marroquino com a mesma história. A esposa dele não era dançarina profissional, ela era uma rica dona de casa que não negava suas raízes vinda de uma tribo Berber, ainda não afetada pela cultura ocidental. Eu disse a ele que daria metade da minha alma para poder presenciar uma cerimônia como essa e ele prometeu ajudar.
Em 1964 eu escrevi o artigo mencionado anteriormente o qual foi publicado numa revista médica especializada. Esse artigo foi reimpresso em outras cinco publicações, de jornais feministas e publicações sobre dança a Medical Dimensions de 1974 (revista médica). O número de abril de 1961 da revista Dance Perspectives mostrava que La Meri, a respeitável dançarina e etnóloga usou a mesma passagem de A Dançarina de Shamahka para ilustrar seu artigo. Mundo pequeno não?
A essas alturas, pensei que meu amigo marroquino tinha esquecido sua promessa mas em 1967 recebi notícias de Casablanca: “venha para cá imediatamente, se ainda quiser ver o que me pediu”. Outra prima estava para dar à luz e pelo tamanho, deviam ser gêmeos. Sem perguntas apanhei meu passaporte, emprestei um dinheiro de minha mãe (obrigada mãe!) e voei para Casablanca. (Pensando bem não lhe devolvi o dinheiro ainda. Ela também não tocou no assunto.) A esposa do marroquino me esperava no aeroporto e foi me explicando a situação no caminho para a pequena cidade, um lugar entre Tisint e Tintasart (nada que se pudesse chamar de cidades turísticas!).
Já que nem podia imaginar como se falava Berber, nem árabe (falávamos em francês e espanhol), mas passava facilmente como marroquina, eu deveria fingir que era surda e muda e seria apresentada como uma serva da esposa de meu amigo. Qualquer um que me conheça sabe o esforço que é para eu manter a boca calada por cinco minutos, imagine por dias… Ela me explicou sobre o que aconteceria de forma a não ser pega de surpresa numa reação que poderia arruinar o meu disfarce. Eu deveria começar a representar meu papel imediatamente pois iríamos apanhar outros parentes no caminho que não deveriam saber de nada. Claro que tivemos que ficar algumas horas na casa de cada parente, comer, etc. Perdi alguns quilinhos extras já que as servas só comiam os restos.
Minha “senhora” me levou a várias festas de família, sempre justificando que eu era nova em sua casa e tinha sido praticamente adotada por ela já que eu era tão jovem e terrivelmente atormentada por Alá. (Quando a questionei por mentir sob o nome de Deus ela me disse que o meu “tormento” era não ser realmente marroquina!) Ouvi muita música e vi bastante Schikhatt (dança folclórica), até dancei junto com outras servas após o trabalho, elas têm suas próprias festas Schikhatt. Foram 3 longos, quentes e cansativos dias e noites de paradas em casas de parentes até finalmente chegarmos a pequena cidade. Assim que chegamos fomos direto para o hamman local (banhos a vapor). Alá seja louvado!
Uma tenda especial foi armada para onde a prima foi levada no dia anterior após ser banhada por amigas no hamman. Seu marido era um grande mogul (pessoa muito importante) na tribo e muitos festejos acompanharam o evento. Ela estava sentada numa espécie de divã (sofá baixo) na parte de trás da tenda e eu notei um buraco no chão bem no centro. Tinha bastante comida, frutas e chá de hortelã para as convidadas. Os homens deviam ficar a uma distância de 100 jardas da tenda. Não se sabia exatamente o dia do parto mas sabia-se que estava perto. Mais parentes eram esperados e havia comida para alimentar um exército. Passamos o dia cantando, tocando bendirs (instrumento típico marroquino) , dançando Schikhatt, tomando chá de hortelã (que eu servia a minha “senhora” de maneira razoável!) e comendo. Ah, sim – a grávida levantou-se e dançou boa parte do dia, vestida com uma bela kaftan (tipo de vestido) bordada.
Mais tarde, à noite quando eu estava sozinha com minha benfeitora perguntei sobre o buraco no chão. Ela disse que era para o bebê no momento do nascimento. Hum? Espere e verá… Na manhã seguinte fomos acordadas por uma das servas da prima: o trabalho de parto começara. Pulamos da cama (dos divãs), nos vestimos e corremos feito loucas. A grávida vestia uma kaftan mais leve e estava acocorada em cima do buraco, suando em bicas. As outras mulheres formaram uma série de círculos, dos quais três eram próximos a ela. Pudemos fazer parte do primeiro círculo. Todas as mulheres cantavam e ondulavam seus abdomens, ás vezes contraindo fortemente. Os movimentos eram bem mais lentos e fortes do que os chamados tremidos de ventre e que podem ser vistos em danças Schikhatt. Elas repetiam os movimentos enquanto giravam os círculos lentamente, no sentido horário. Por vezes a prima levantava-se e fazia os movimentos no lugar para depois abaixar-se de novo. Ela não parecia agitada nem com dor, seus cabelos e sua testa molhados de suor eram o sinal de seu esforço.
Parávamos somente para as preces do dia. Graças a Deus sou uma dançarina e pude imitar os movimentos do ritual islâmico como se estivesse imitando uma dança, ou tudo teria ido por água abaixo naquele momento. Bebemos chá de hortelã servido a todos e continuamos a dançar. Mais ou menos uma hora depois ela soltou um grito abafado e ouvimos um barulho seco. Ela levantou sua kaftan e vimos um bebê no buraco. Mas ainda não havia terminado, quinze minutos depois outro grito e outro barulho seco. Eram gêmeos. Eles foram limpos com panos macios feitos com lã de carneiro umedecidos com chá fresco, mas os cordões umbilicais só foram cortados após a saída da placenta. Eles foram cortados com uma faca de prata e a placenta enterrada no mesmo buraco que recebera os recém-nascidos.
As mulheres começaram a cantar feito loucas (lílílí), os bebês começaram a chorar (quem não choraria com todo aquele barulho) e a julgar pelos gritos vindos de fora os homens perceberam o acontecido e já levavam a boa nova para o outro lado da cidade onde estava o pai esperando com amigos. Quinze minutos depois, ele parou a exatas 100 jardas da tenda e os bebês foram levados até ele envoltos em tecido branco. Depois levados de volta para mãe, que já descansava, para serem amamentados. As mulheres continuaram cantando e dançando até depois do pôr do sol. Foi tão emocionante que não consegui conter o choro.
Enquanto assistia ela dando à luz, pude perceber seu ventre por baixo da kaftan em contrações involuntárias igualzinho as gatas quando estão parindo. Mais tarde perguntei a minha “senhora” se ela também estava dançando ou se eram movimentos naturais e ela disse: “Nós fizemos uma imitação dos movimentos naturais. Ela tinha que fazer esses movimentos quando dava à luz porque não podia ser de outra maneira.” Em outras palavras, aqueles eram movimentos naturais do trabalho de parto que foram “apagados” de nossos cérebros por propagandas religiosas e manobras médicas.
Isso foi mais do que suficiente para provar a origem de alguns dos movimentos incorporados a Dança Oriental e dar crédito as alegações de Armen Ohanian, de que essa dança sagrada foi degradada e distorcida.
De forma alguma isso pode significar que quando danço finjo estar parindo. Yuk! Significa sim, que sei a origem, a intenção, o respeito e o amor pela vida que a dança deve mostrar. Ela deve ser graciosa, bonita, artística, sincera e não um show vulgar para entreter homens.
Não me desculpo a ninguém pela minha arte, agradeço a Deus por isso, pela minha habilidade em fazê-lo e por ganhar o meu sustento fazendo algo que gosto. Não tenho nenhum respeito por alguns infelizes que usam a dança para projetar suas degeneradas fantasias sexuais, pois não têm confiança em sua própria sexualidade.
Toda dança tem suas raízes em algum tipo de cerimônia religiosa, algumas delas deliberadamente erótica, assim como um discurso tem sua origem nos grunidos dos homens das cavernas. Toda forma de dança, bem feita (assim como esporte, ginástica, etc.) é agradável aos olhos e pode ser sensual. Infelizmente, existem os ignorantes que acham qualquer movimento um pouco mais trabalhado do corpo humano indecente e lascivo. Isso é um problema deles, mas é difícil trabalhar como uma verdadeira bailarina oriental e etnóloga sem ter que lidar com essas mentes doentes e suas interpretações vulgares.
Usar esse nome horroroso “belly dance” não é apenas incorreto mas um insulto equivalente a chamar o Flamenco de “Dança de Matar Baratas”. Em árabe a dança é chamada de “Raks Sharki” ou “Raks al Shark” que se traduz como “Dança Oriental” ou “Dança do Oriente”. Em lugares no Oriente Médio é também conhecida como “Danse Orientale”. O termo “belly dance” foi criado em 1893 por Sol Bloom, empresário da Midway Plaisance & “Street in Cairo” exibido na Colombian Trade Fair and Exposition in Chicago (Feira Mundial de Chicago), EUA. Ele deu este nome de forma deliberada para atiçar as mentes sujas da era vitoriana, que pagariam qualquer preço para ver algo que eles considerassem obsceno e então fingirem-se chocados. Num tempo em que as palavras “braço” e “perna” eram indecorosas (eram chamadas membros), você pode imaginar o que eles fizeram disso. O Sr. Bloom calculou corretamente e ganhou tanto dinheiro que pode financiar sua candidatura ao congresso, ao qual foi eleito. Infelizmente o nome ficou, assim como o julgamento irracional, especialmente quando há criaturas que nivelam por baixo no intuito de ganhar dinheiro fácil.
Felizmente, existem bailarinas que respeitam a si mesma e a arte da dança. Há também o povo oriental que não sucumbiu a distorção e degradação colonialista de sua herança étnica. São pessoas que conhecem arte quando vêem. A eles o meu muito obrigado e podem se alegrar por eu ser uma dançarina oriental. Pois certamente, eu sou.”
Traduzido por Claudia Offner.
Sobre a Morocco:
Carolina Vargas Dinicu, é dançarina, pesquisadora e etnóloga, atua a mais de 40 anos com danças femininas orientais, buscando sempre a origens e a sacralidade de cada dança.
Atua em Nova York com sua companhia de Dança Casbah.
www. casbahdance. org
Bjks Coloridas....
Com Amor
Chris
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O conselho das 13 Matriarcas
Trailer do documentário “O CONSELHO DAS 13 AVÓS”. EM 2004, 13 mulheres indígenas de diferentes partes do mundo se reuniram e criaram uma aliança para salvar a Mãe Terra. Para isso, fundaram o Conselho Internacional das 13 Avós. Durante 4 anos viajaram pela selva Amazônica, pelas montanhas do México, América do Norte, visitaram o Dalai Lama na Índia e cada uma delas trouxe sua visão sobre como curar o planeta e sua luta para uma chamada de mudança global, antes que seja tarde demais.
Beijos abençoados,
Val Gatinhos.
La Abuela Margarita
Recebi o vídeo abaixo de um amigo de Portugal no meu Facebook. A vovó fala do resgate do feminino. Vale a pena!!
Apesar de o vídeo estar em espanhol, é bem fácil de entender. Mas mesmo assim prometo em uma tradução livre dele. E quem se habilitar, também fique à vontade!
Beijos Vermelhos,
Val Gatinhos.